No final dos 80, eu andava com um skate debaixo dos pés pra cima e pra baixo… morava em Goiânia, entre um salto e outro, chegavam os amigos, não raro, em nossas conversas, aparecia na roda alguma revista gringa de skate, atentem que em 89 era bem difícil se ver coisas importadas por aqui, bom… pelo menos em Goiânia.

Essas revistas mostravam o skate como um estilo de vida, então as páginas traziam matérias que iam além do carrinho, falavam de tudo que influenciava essa galera, e é claro que o que mais rolava eram as bandas que estouravam por lá, e nós aqui da terrinha tinhamos pouquíssimo acesso a elas, a cultura do mp3, ipods e o acesso ilimitado a downloads mil nem passava pelas nossas cabeças oitentistas. Ficavamos só babando, sedentos até que uma boa alma descolasse um disco dessas bandas gringas para podermos gravar em nossas k-7’s.  Prong, Danzig, Onix, Bad Brains, figuravam nas páginas, mas uma banda em especial me chamava a atenção naquela época, divulgando seu mais recente disco. Ainda tenho nítida na memória o anúncio em folha dupla na revista Trasher, era o lançamento do disco do Social Distortion (uma banda com esse nome não pode ser ruim, pensava eu). Fui conseguir ouvir o som da banda alguns anos mais tarde, e de cara veio a sensação de que valeu a pena esperar tanto tempo. Hoje tenho todos os discos devidamente digitalizados e vez ou outra me inverno ouvindo-os por semanas.

A Banda é californiana, formada em 78, e entre idas e vindas, mortes e rehabs, o fundador e líder Mike Ness (o único integrante da formação original),  ainda tem a mesma pegada punk, simples e rápida, falando direto e sem rodeios das decepções da vida, de um submundo escapista, dos que vivem a margem, onde as referências da juventude justificam as atitudes adultas, é a boa e velha falta de esperança “No Future”. O nome da banda é ideal para seus temas, a hipocrisia, os manipuladores, e a  juventude perdida americana. Músicas como “Mommys Little Monster”, “Don’t Drag Me Down” , “Story Of My Life” entre tantas outras resumem muito bem o mundo de Mike Ness. Junto com nomes como Dead Kennedys e Bad Religion o SD foi umas das bandas de frente que mantiveram o punk rock vivo nos anos 80 e influenciaram meio mundo de bandas dos 90.

São seis discos lançados, mais um ao vivo e outros greatest hits. Na década de 80 chegou “Mommy’s Little Monster” mais especificamente 83, apresenta as credenciais da banda, vigoroso e direto, é o punk rock como deve ser,  depois de se separarem em 85 para um rehab de Mike Ness, em 88 veio “Prison Bound”, com quase todas as músicas citando uma prisão, imaginária ou real, dilemas morais, um mundo fora da lei, viva rápido, morra jovem, numa pegada meio faroeste, como a faixa título, um southern rock punk moldando o perfil da banda e preparando para o próximo petardo auditivo, o disco homônimo “Social Distortion” que em 1990 saia do forno trazendo “Story Of My Life” e “Ring of Fire” como destaque e expondo as influências da banda, de Stones ao country-blues  misturados no molho do velho e sujo Punk Rock como em “It Coulda Be Me” e “Drug Train”. Dois anos depois chegava “Somewhere Between Heaven And Hell”, um disco palatável, mas fiel aos preceitos da distorção da sociedade, com uma sucessão de ótimas músicas, “Cold Fellings” e ” Bad Luck” introduzem o disco, e daí pra frente é só a felicidade de uma estrada vazia e um pé no acelerador.  “Bye Bye Baby” e “King Of Fools” estão entre as minhas preferidas. Em 1996, “White Light, White Heat, White Trash” traz um SD maduro, o som seguro e pesado na medida certa, mantém suas origens e mostra que a banda descobriu a receita de fazer um disco excelente do começo ao fim. Ouça com atenção e satisfação as “Dear Love”, “Don’t Drag Me Down”, “Down Here (W/the Rest Of Us)”, que estão em sequência. Em 98 gravaram ao vivo no “Live At The Roxy” repassando 20 anos de banda. Depois de um período de silêncio, em 2004 chega seu último lançamento “Sex, Love and Rock’n’roll”, um disco que eu poderia chamar de nostálgico, sentimental e romântico no sentido literário, montado em lembranças, e por isso mesmo excelente. Um disco-análise, quem sabe? A saudade da juventude e resposta à “Story Of My Life” de 1990. Esse disco mostra que as coisas envelhecem mas permanecem lúcidas o suficiente para não se arrependerem mas não errarem novamente. Para cada música uma memória, ouça “Don´t Take Me For Granted”, “Nickels And Dimes”, “I wasn´t born to follow”, “Winners and losers” e “Angel´s wings”.

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Depois desse post altamente sentimental só me resta por minha velha jaqueta de couro preta, meu coturno batido e ir ao show da Turnê Latino-americana da Banda, meu ingresso tá garantido, mas já passo o serviço:

Show: Social Distortion

17 de abril –  São Paulo – Via Funchal
18 de abril – Curitiba – Curitiba Master Hall
20 de abril – Porto Alegre – Centro de Eventos Casa do Gaúcho

Hit the punk rock, amiguinhos!

Asta.

Texas, sul dos EUA, lar dos mais fervorosos rednecks, da música country, representantes de uma nação bélica, religiosa e contraditória, americanos protestantes ortodoxos, os mais puros.

Nesse ambiente cresceram Caleb, Jared e Nathan, os 3 irmãos Followill, filhos de uma família de religiosos. O pai era um pastor que vivia viajando para pregar nas igrejas do chamado “Cinturão da Bíblia“, a criação era rígida e sem previlégios, exceto nos momentos em que os primos se juntavam para tocar música gospel nas igrejas da região.

Em 1998, se fixaram em Nashville, Tennesee, os muleques já crescidos, pensou o Pastor Leon Senior, tá na hora de liberar essa galera. Eles ganharam uma liberdade até então desconhecida. Já era de se esperar que, com todo esse histórico a liberdade iria virar sexo, drogas e uma banda de rock´n´roll. Os irmãos chamaram seu primo, Mathew para a guitarra e formaram o Kings Of Leon.

Depois da história triste dos rapazotes, veio a bonança. No primeiro cd, “Youth and Young Manhood”(2003) , os barbudos protestantes sulistas apresentaram um som singular e vigoroso, foi a grande promessa do rock’n’rol daquele ano, mas independente desses rótulos jornalísticos a banda se destaca pelo suas influências interioranas, o folk e o country triturados numa batedeira experimental com um rock de guitarras garageiras, linhas de baixo que fogem do lugar comum e um cantar abafado de Caleb sem querer mais salvar almas, amores confusos, putas, vingança, sexo, morte, traições, e a tal liberdade anseada são baforadas no microfone com aquele sotaque sulista quase inintelível. “Red Morning Light” apresenta o KoL com uma guitarra aberta e vigorosa, depois disso, é uma surpresa atrás da outra, destaques para o hit “Molly´s chambers”, e a poderosa “Spiral Starcase” com sua cozinha sincopada.

No segundo petardo, “Aha Shake Heartbreak” de 2005, eles mantém a fórmula do primeiro, com uma boa carga experimental nos arranjos, mas secos e diretos. Ouça com atenção “Slow Night So Long”, as excelentes levadas de “The Bucket” , “Razz” e “Four kicks”.

Em 2006 eles tocaram aqui em SP no Tim Festival, fui pra ver os caras, show competente e pesado, sem muito mimimi, foi bom pacas.

Estes dois primeiros discos mostram um rock bruto, direto. Viajem longa? ouça os dois na sequência, irretocáveis.

Já o dois últimos já não trazem essa pegada, infelizmente o diabo que dá é o mesmo que toma e em 2007 lançaram “Because Of The Times”, um novo direcionamento no som dos caras, mais limpo (até em aparência, barba feita, cabelos cortados, enfim) e mais leve, ainda com algumas pegadas dos primeiros discos. Sobrevivem a gritada “Charm”, “Black Thumbnail” que também tem uma boa pegada e “My Party” fecham a parte mais interessante desde petardo. O resto do disco já não serve muito aos nossos interesses, e dão o tom de “Only By The Night”, seu último lançamento, um disco quase pop, quase equivocado, muita interferência de produção que tirou o som seco e direto, a voz abafada de Caleb agora é cristalina, e quase tudo que antes era inovador e experimental soa meio bobo, então ele só está aqui para eu não indicar.

É isso aí, viver em pecado tem dessas coisas.

Capetinhas Pinups dançando can-can no Saloon do inferno, jogos de azar, bêbados, ladrões, assassinos, toda corja sangue ruim de foras-da-lei politicamente incorretos, almas vendidas a demônios, má educação, gangues de hippies psicopatas e rednecks loucos recheando histórias de terror e violência, e claro, carros envenenados, fugas alucinadas e paixões destrutivas. A trilha sonora pra esse mundo de minorias e páreas é o encontro de johnny Cash com o Lemmy do Motorhead no mesmo palco do inferno, mas também podemos chamar de Matanza e seu countrycore.

A idéia dessa mistura não é nova, afinal o rock surgiu no country, e tem outros irmãos, como o blues, o Folk , o Bluegrass, entre outros, mas no molho do Matanza ainda tem espaço para o punkrock, hardcore, metal, grind. É o feio, o sujo e o mal, é música combustível e pesada, cantada com ímpeto em alto e bom português, mal educado e mal encarado, mas de coração bom, tudo é uma questão de postura, afinal é preciso ter coragem para manter essas influências sendo uma banda carioca, mais acostumados a seus funks e sambas.

A relação da banda com o universo dos carros vai além das músicas, Jimmy, o ruivo vocalista, empresta sua carranca mal encarada a MTV, apresentando a versão nacional do programa Pimp my Ride que já teve duas temporadas patrocinadas pela VW. Em uma delas até produziu um Volksrod bacanudo usando o tema “palhaço”.

Voltando a Banda, fora a demo “Terror e Dashville” de 98, eles já contabilizam cinco discos lançados. Os singelos “Santa Madre Cassino” de 2001, “Música para Beber e Brigar” de 2003, uma homenagem a uma de suas maiores influências o “To Hell With Johnny Cash” de 2005, com versões de suas músicas do início de carreira (1955 a 1958), “A Arte do Insulto” lançado em 2006, com os petardos musicais “Clube dos Canalhas” e “Tempo Ruim”. Em 2008 eles lançaram uma coletânia ao vivo em CD e DVD, gravado no templo punkrock de São Paulo, o Hangar 110 sob assinatura da franquia “MTV Apresenta: Matanza”.

É isso Caveiras velhas, é som independente, “do it yourself”, vá ao show, compre o CD e ouça atrás de um volante, e pense que este poderia ser o som ambiente do elevador pro inferno.

A… essas músicas cheias de mensagens positivas.

Dançarinas Pinups lambendo pirulitos gigantes vestidas com singelos vestidos inspirados na década de 50 estampados com desenhos de esqueleto, dois guitarristas com uma pegada excelente, uma baterista certeiro e uma bela pinup baixista tocando num baixo de pau tão tatuado quanto ela e ainda cantando…. e bem… Essa é a visão do paraíso, ou do inferno Psicobilly, principalmente se os temas cantados passam por zumbis, monstros, filmes de terror, relacionamentos destrutivos, tattoos, carros e freaks/psicos em geral. Esse é o HorrorPops.

A banda dinamarquesa é formada por integrantes de outras bandas importantes nessa cena Psicobilly (Nekromantix, Strawberry Slaughterhouse, Peanut Pump Gun e Tiger Army). Além das influências mais óbvias como o rebeldia punk rock setenta e o rockabilly, o som do HorrorPops também traz uma bela pitada oitentista, do pós-punk ao new wave passando pelos ska e surf music indo até o gótico. É fácil perceber Siouxsie and the Banshees, Softcell, Billy Idol, Iggy Pop entre outros no som da banda.

No fim das contas o HorroPops é uma celebração ao oldschool, misturando vários elementos estéticos e estilos, entregando um som de personalidade que é ainda mais reforçada pela presença forte de voz marcante da Baixista e Vocalista Patrícia Day.

Então, chega de blábláblá e vamos dando o serviço. O HorrorPops tem 3 discos lançados: Hell Yeah de 2003, Bring It On de 2005 e o mais recente Kiss Kiss Kill Kill lançado no ano passado.

Se alguém duvida que HorrorPops é um bom som pra se ouvir atrás de um volante veja o vídeo de “Where You Can´t Follow”

… “Ghouls” ao vivo…

… “walk like a zombie” e reparem nos vestidinhos de caveira, nada mais Psicobilly.

Hit the music, Old Skulls!!!

Vamos lá para mais uma pretensa sessão deste projeto/blog.

O assunto é música.

Quando se fala em música e carros logo pensamos: Rock’n’roll. Nada mais óbvio.

Carros + música + rebeldia + garotas + juventude = rock’n’roll

Mas, não somos bitolados, vão surgir outras vertentes por aqui, afinal música é um estado de espírito, é uma sensação de momento. O que interessa aqui é dirigirmos ouvindo um bom som. Então sempre que eu me lembrar ou ouvir algum som que me remeta a essa sensação ele estará por aqui.

Vou começar pelo Do It Yourself, pelo mundo independente, e por meus conhecidos pra fazer um jabá, a banda goiana MQN.

Vermelho como o inferno.

Se som de garagem pode definir uma boa música pra se ouvir num hot os caras do MQN acharam a fórmula. É som de garagem, sujo, gritado, com cheiro de gasolina e pneu queimado. Carros, drogas, garotas, muito barulho e ímpeto. Além de um som consistente, Fabrício Nobre, o gritador da banda, faz parte da gravadora e produtora Mostro discos, responsável por dois dos maiores festivais independentes do Brasil, o Goiânia Noise Festival e o Bananada, realizados em Goiânia. Eles são cabeças pensantes no cenário do rock independente nacional.

Mas falemos de música.
A primeira gravação da banda saiu numa finíssima edição em formato vinil compacto, e já traduzia no nome do petardo o que interessa para essa coluna: Hot Rod Music. O compacto com 3 músicas, 1 do MQN e 2 da Thee Butchers’ Orchestra (outra banda que vamos indicar aqui futuramente).

Depois de mais um compacto em vinil, Devil Woman, lançaram um CD, HELLBURST de 2002 corfirmava a veia combustiva da banda, rock garageiro, sujo, pesado, feio e mau. Um excelente CD pra se ouvir junto com um barulho de motor. As performances ao vivo são sempre energéticas e malcriadas, comandadas pelo mestre de (sem)cerimônias, Fabrício Nobre.

Daí pra frente é só chapuletada na moleira. São dois CD o já citado e o Bad Ass Rock’n’roll de 2005, além de um projeto Fuck CD sessions, onde declaram o fim da instituição CD, e liberam a sua música independente e setentista garageira dos grilhões do formato. O Fuck Cd Sessions prevê o lançamento de 5 compactos de 7″ (isso mesmos old skulls, o bom e velho vinil) com duas músicas cada, embalado luxuosamente com o trabalho de designers e artistas independentes, em formato de singles, a conta gotas. O quarto volume do projeto foi recém lançado. O que? você não tem um fonógrafo???? Sem problemas, todas as músicas dos compactos e toda a discografia do MQN está disponível para download aqui, enjoy.

Hit the music, Old Skulls!!!